22 de novembro de 2009

PADRE WALTER SE DESPEDE DE MARTINS
( amanhecendo em Martins- Daniela Maia)
36 anos de presença e de serviço na Paróquia de Martins não apenas fizeram de mim o pároco que por aqui passou mais tempo dos 169 anos de existência desta Paróquia – baste dizer que batizei mais da metade dos católicos da Paróquia de Martins e celebrei o casamento de pelo menos 70% deles – mas foi também um tempo mais do que suficiente para pároco e paroquianos criarem laços de afeto recíproco e até de apego e para que eu fosse incorporado a paisagem de Martins, de tal forma que parecia que nunca chegaria a sair daqui.
Pois o Espírito Santo que nos dá a paz, mas não nos deixa em paz, veio me desinstalar do meu ninho, do meu cantinho querido, e soprou nos meus ouvidos a mesma canção de 36 anos atrás quando me mandou sair da Itália: “Sai da tua terra e vai onde te mostrarei!”Poderia eu me opor a sair da “minha querida terra”, negando a mesma vocação missionária que aqui havia-me trazido?! O mundo é de DEUS, mas a missão é nossa!
Sabendo que quando Deus apaga é porque vai escrever alguma coisa, e ciente de que DEUS nunca nos dá incumbências e tarefas maiores do que nossas forças de realizá-las, tenho certeza de que minha saída, mesmo que nos traga o sofrimento da separação física, vai ser útil seja para mim, seja para os paroquianos. Vai produzir renovação e crescimento.
Até a minha ausência da Paróquia nos últimos 4 meses foi providencial para facilitar o desapego. Nem funcionou o conselho de um amigo: “Ausente-se, para que os paroquianos sintam sua falta; mas não prolongue demais sua ausência para que eles não sintam que podem viver sem você”. Ao contrário: graças a DEUS a necessidade ajudou a provar, se preciso fosse, que realmente a união entre a Equipe Paroquial de Coordenação Pastoral, as Irmãs da Sagrada Face, a comunidade “Veni, Creator Spiritus”, os Agentes dos Pólos Pastorais, os animadoras/es, os Funcionários da Paróquia e tantos colaboradores tocam para frente, e muito bem, a Paróquia!!!
E os colegas presbíteros, motivados por Dom Mariano, garantiram com generosidade o que é específico do sacerdote que faltava para completar a assistência religiosa da Paróquia.É como costumo dizer: os cemitérios estão cheios de gente que tinha a presunção de se considerar insubstituível ou que era considerada indispensável.

Fazendo uma auto-avaliação da minha presença na Paróquia posso afirmar que:· O ESPÍRITO SANTO chega sempre pelo menos 5 minutos antes de nós!· No jardim crescem mais coisas que as que o jardineiro semeou.· Às vezes encontramos CRISTO lá onde pensávamos que tínhamos que levá-lo.· Nem sempre consegui ser fiel ao princípio que me propus: “Não quero fazer o que os outros não fazem hoje, mas que farão quando eu for embora”.
Nenhum de nós, individualmente, é tão bom quanto todos nós juntos.Nosso sonho, antes de ser nosso, deve ser sonho de Deus.Aqui foi DEUS que fez tudo; eu apenas fiz ...o resto.· Só se consegue fazer bem o que se faz com amor!· O papel do sacerdote na comunidade deve ser como o do grampo do caderno: talvez nem se olhe para ele, mas é ele que segura as folhas juntas.·
Qualquer pessoa pode contar as sementes da laranja, mas ninguém pode contar as laranjas da semente!Nestes 36 anos assimilei muitas lições. Aprendi que:· Umas das mais belas compensações da vida é que ninguém pode sinceramente procurar ajudar os outros sem si ajudar a si mesmo.· A Paróquia é uma família de famílias, uma comunidade de comunidades.·
Precisa evangelizar-se para evangelizar.· Os outros poderão crer ao amor de JESUS CRISTO só se puderem acreditar no amor dos que o anunciam.Só mesmo Deus pode fazer tudo certo; o máximo que nós podemos fazer é não errar tudo. Os sacrifícios só existem para quem já não ama mais. Quem ama não percebe de jeito nenhum que está se sacrificando!É bom fazer todo como se tudo dependesse de nós; e confiar em DEUS como se tudo dependesse dele.
É pecado de orgulho pensar que tudo dependa de nós, mas também não está certo não fazer tudo o que for possível!Fico muito feliz, quando, à noite, na hora de ir dormir posso dizer tranqüilamente ao Senhor: “Senhor, amanhã me trate como eu tratei hoje os outros!”Não estamos perdendo fiéis na Igreja Católica: os “fiéis” continuam conosco. Estamos perdendo os infiéis!
De uma única vela podem se acender milhares de outras velas apagadas sem que sua luz diminua.A Liturgia é ao mesmo tempo arte e oração, poesia e ciência, ação e contemplação, realidade humana e divina, terrena e celeste, visível e invisível, símbolo e presença do realmente Presente. O rio fica grande graças às contribuições dos pequenos riachos.A mais alta torre começa no solo.
O que foi amargo sofrer é doce recordar.Melhor fazer o que podemos fazer, aproximadamente agora, do que exatamente nunca.O que importa saber não é quantos vão à Missa, mas como saem de lá os que vão!É preciso que ninguém de nossos irmãos e irmãs possa se queixar de não ter encontrado em nós a ternura de DEUS.Não adianta gastar energias tentando consertar o que não está quebrado.Quem não tem batalha não tem vitória.
Ainda é pouco demais o que damos, quando damos do que temos. Só quando nos doamos a nós mesmos é que realmente estamos dando algo de valor!Os anos ensinam coisas que os dias desconhecem.O trabalho encurta o dia e prolonga a vida.Abelha e maribondo sugam a mesma flor; mas só a abelha produz o mel!Se souber escutar, a gente pode sempre aproveitar algo até dos que falam mal da gente.
Pensar em fazer grandes coisas, pode ser o melhor pretexto para não fazer as pequenas.É melhor ter padres de ouro e cálices de louça do que vice-versa.O melhor marceneiro não é o que produz mais pó de serra.O que consegui semear e plantar nestes 36 anos, devo agradecer a DEUS, em primeiro lugar.Afinal quem é que toca no concerto?
O instrumento ou o músico? Um precisa do outro. Assim também o ESPÍRITO SANTO e o que ele escolheu são o instrumento e o tocador. Mas o resultado final, a sinfonia, foi colaboração de muitos instrumentos aos quais agradeço: foi fruto de um trabalho conjunto das Irmãs da Sagrada Face, dos Agentes de Pastoral Leigos, d@s Funcionários da Paróquia, dos animadoras/es e voluntários, da Comunidade “Veni, Creator Spiritus”, dos paroquianos e do padre Walter.
Por isso eu aprecio mais o coral do que o solo.Agradeço também a confiança dos “regentes” da “Orquestra Diocesana” que se alternaram no comando da batuta, e do atual Maestro: Dom Mariano.Agradeço ao povo por ter-me suportado com paciência, sem nunca ter-me considerado “forasteiro” (eu também sempre me senti mais nordestino do que italiano).
E como tantos outros nordestinos, agora chegou minha vez também de migrar, deixar o interior, mas sabendo que o melhor lugar do mundo é sempre onde o Senhor nos quer. É por amor e obediência a esta Igreja que irei servi-la onde DEUS me chamou.Eu amo todas as Igrejas, mas estou apaixonado pela minha Igreja Católica e tenho o orgulho de pertencer a essa bimilenária instituição humano-divina.
Tenho prazer de estar neste barco de Pedro, com a certeza absoluta – JESUS nos deu esta garantia – de que, mesmo frágil, até com algum defeito e sacudido pelas procelas, mesmo assim e apesar de tudo isso, nunca poderá ir a pique, sucumbindo á prepotência do mar!(Seja como for, o divino timoneiro nos ensinou que se não dá para melhorar a embarcação, pode sempre tentar melhorar o marinheiro).Lamento não ter agradado a todos.
Deveria ter tido mais contato com @s paroquian@s, ter participado mais da vida social, ter visitado mais as famílias, os doentes, as pessoas provadas pela dor...Dizem que quando você está certo, ninguém se lembra; quando você está errado, ninguém esquece.
Por este motivo também, peço perdão a quantos magoei ou ofendi com minha impulsividade, com minhas palavras duras, com minha falta de atenção, com minha exigência, com minha impaciência.
Nunca porém – lhes garanto – foi propositalmente. A todos peço ainda perdão se como “padre” (que significa “pai”) não fui, como deveria ter sido, uma imagem do DEUS “PAI”, do seu amor, da sua bondade, da sua ternura e da sua misericórdia.Por outro lado, como padre-pai, faço também questão de dizer que não tenho magoa de ninguém. Sempre perdoei e perdôo, até com facilidade, sem ressentimento, a todos os que não gostaram de mim, os que me detestaram, os que me caluniaram, os que me desejaram ou me fizeram o mal.
Prova disso seja minha oração cotidiana, cuja primeira intenção sempre é pelos que se dizem meus inimigos. (Tenho inimigos, mas não sou inimigo de ninguém!). Acredito que tratando as pessoas como se elas fossem o que deveriam ser, estou ajudando-as a se tornarem aquilo que são capazes de ser.Meu bom Povo de DEUS, na iminência da despedida, ao normal sentimento de tristeza, se mistura a satisfação pela ótima escolha do Presbítero que, a partir de 2010, irá coordenar esta Paróquia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição: Padre Possídio.
Além do mais é meu filho espiritual a quem quero muito bem e é um fruto daquilo que foi semeado na Paróquia ! Com ele virá também o seminarista Maciel que está fazendo o derradeiro estágio antes de ser ordenado Diácono e Presbítero, portanto uma valiosa ajuda a mais!A ele desejo que tenha as mãos de Marta e o coração de Maria. Que ele consiga o que eu apenas tentei.
Que não ande apenas pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram. Que ele abra novas veredas. Que aumentem todas as vocações.A vocês peço que o aceitem com o mesmo respeito e carinho que me dedicaram. Espero que sejam leais com ele como foram comigo, sabendo que apenas quem quer ajudar tem o direito de criticar.
De minha parte – já vou prevenindo – garanto que, uma vez saído da Paróquia, não haverá nenhuma interferência ou ingerência minha na Paróquia de Martins.Se é verdade que a Paróquia é feita por nós: ...só falta, agora, desatar os nós!Que Nossa Senhora da Imaculada Conceição interceda as benções divinas sobre todos!Se precisar de mim, nem pensem em me procurar! Me procurem sem pensar!

Seu amigo, irmão, pai ou avô,

padre Walter Collini.

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José Maria Alves - Editor Geral